Brasileiro não cria gueto

Esta é uma das coisas que os representantes do Governo do Québec fazem questão de frisar, nas palestras de imigração Brasil afora. Morando aqui há mais de um ano eu entendo realmente o que isto quer dizer: que brasileiro não se mistura e não faz questão de se misturar. Pelo menos esta é a realidade aqui em Montreal.

Antes de vir para o Canadá eu não tinha nenhum conhecido morando aqui, fui meio que desbravador. O que eu tinha era uma idéia do que me esperava, sabia mais ou menos o que fazer no início e já tinha as minhas metas traçadas. Isto pra mim já era o suficiente para seguir em frente.

Nestes quase 14 meses morando aqui, se eu disser que não conheci nenhum Brasileiro eu estaria mentindo. Conheci alguns, da pra contar nos dedos, mas infelizmente são a minoria na minha rede de conhecidos e amigos.

Pra falar a verdade, não me sinto na obrigação de me relacionar com alguém só porque este alguém é brasileiro. Também não sou de forçar a barra, não sou de correr atrás de ninguém. Na minha concepção uma amizade ou relacionamento, com quem quer que seja, brasileiro ou não, começa com uma afinidade que tem que ser, obviamente, recíproca. Esta afinidade pode ser política, religiosa, financeira, profissional, musical, esportiva, etc. Tem também a história do “santo bater”: se o seu santo bateu com o meu, então isto é um bom sinal. Se não bateu, bola pra frente.

Este é um parâmetro razoável, mas não seria o único que explicaria o porquê de brasileiro não se misturar.

Eu tenho esta teoria que classifica o imigrante em dois grupos: o preparado e o deslumbrado.

O preparado é aquele que tem um excelente background, é bem sucedido no Brasil, avaliou bem as chances e oportunidades de se dar bem aqui, veio realmente preparado e, ao chegar aqui, rapidamente teve uma boa colocação no mercado de trabalho. Pro imigrante preparado, ter êxito no projeto de imigração, alcançar um bom padrão de vida é questão de tempo.

Já o deslumbrado é aquele que vem pra cá atrás do sonho americano (que não existe), é o que acha que tudo é perfeito, que aqui é um paraíso cor-de-rosa, que vai chegar aqui e tudo vai acontecer como que num passe de mágica, que alguém vai bater à sua porta e oferecer um excelente emprego, com um excelente salário, etc. Este tipo de imigrante geralmente quebra a cara quando chega aqui.

Let’s cut the bullshit.

Ser bem sucedido, ter uma vida melhor é, com certeza, uma das razões que leva alguém a trocar de país. E é isso que todo bom imigrante quer mostrar pra todo mundo, não é verdade?

O problema é que nem todo mundo tem algo positivo para mostrar e aí se retrai, se isola. Pode até ser que existam outros motivos, mas pessoalmente eu acredito que quem não mostra a cara, não o faz é por vergonha.

8 responses to “Brasileiro não cria gueto”

  1. Pedro,

    Seu blog é fantástico e você escreve toda a a realidade do que acontece.
    Sou esposa do Lucas do blog caminhosdonorte@wordpress.com e estava vendo os blogs novos que ele adicionou e o seu estava lá…
    comecei a ler e não parei mais…muita informação boa viu…Parabéns e sucesso ai…
    Não vejo a hora dos nossos pedidos de exames chegarem,rsrsr
    Grande abraço.
    Natália

    • Pedro says:

      Olá Natália,

      Que bom que gostou do meu blog, a idéia aqui é expressar meu ponto de vista sobre assuntos relacionados com meu projeto de imigração – sem bullshit, se é que você me entende.

      Espero que continuem acessando, mesmo depois de já estarem aqui. Boa sorte!

  2. Demmy says:

    Oi, Pedro.
    É engraçado, não sei se os guetos brasileiros realmente não existem no Canadá, ou se é falta de procurar…
    Como disse em outro post, morei na Inglaterra por alguns anos. Como você, também nunca fiz questão de me relacionar com brasileiros, até porque meu objetivo principal lá era aperfeiçoar o inglês. Acontece que mesmo com o pouco contato que tive com brasileiros, posso perfeitamente mapear onde ficam os guetos brasileiros em Londres, por exemplo. Eles existem e não são poucos. Há bairros inteiros lá que são quase que tomados por brasileiros! E há os bairros onde quase não se encontra brasileiros.
    Isso me leva a crer que em paises como Inglaterra, Irlanda, USA e Austrália, que são comumente procurados por trabalhadores tupiniquins que têm esperança de ganhar dinheiro, encontra-se com facilidade esses grupos de brasileiros, até porque grande parte deles não fala a lingua do lugar.
    Já em outros lugares onde não há essa fama de se ganhar muito dinheiro, como Canadá e Nova Zelândia, isso não ocorre.
    O que você acha?

    • Pedro says:

      Aqui no Canadá, ainda não tem tanto imigrante brasileiro como tem em outros países a exemplo dos Estados Unidos e Inglaterra. Outro detalhe importante é que as pessoas que imigram pra cá geralmente tem um perfil sócio-cultural mais elevado do que os que decidem imigrar, normalmente de maneira ilegal, para aqueles países. Acho que isso ajuda um pouco o fato de não existirem guetos, tem também o fato de as pessoas que vem pra cá já possuírem um bom nível de francês e/ou inglês já que são avaliadas durante o processo de imigração.

  3. Christyane says:

    Olá Pedro, obrigada pelo blog, é bastante esclarecedor.Eu estou cursando enfermagem aqui em Salvador e terminarei aos 35 anos exatamente.Estudo o francês e falo/entendo consideravelmente.você acha com sua experiência e o que tem visto por aí, que a idade é um fator muito importante para seleção?o que mais pesa na hora da avaliação?Obrigada , Deus te abeçoe e a sua família.

    • Pedro says:

      Christyane, não vou mentir pra você, idade é um fator importante e você está no limite. Se você iniciar o processo ainda com 35 anos você vai pontuar o máximo neste critério, se for com 36 você já vai perder pontos e a cada ano que passa a coisa já vai ficando muito difícil. O que mais pesa na avaliação é idade, formação, experiência profissional e nível de fluência em francês. Se você já tem um nível básico de francês e está pensando em imigrar, inicie o seu processo o mais rápido possível. Abraços e boa sorte.

  4. Lucas Viana says:

    Olá Pedro, parabéns pelo seu blog. Muito esclarecedor para quem pretende ou pensa em torna-se imigrante. Mas gostaria de saber se para um garoto de 25 anos recém formado (sem experiência profissional) em enfermagem com inglês intermediário e nada de francês, existe alguma chance ao seu modo de ver. O triste que na avaliação on-line que realizei para a provincia de Quebéc o resultado foi negativo, isso já diz que não devo insistir por enquanto?

    Aguardo resposta.

    • Pedro says:

      Lucas, o que determinou o resultado negativo foi o fato de você não falar francês. Você tem duas possibilidades: 1) Tentar fazer o processo federal, que só exige fluência em inglês, mas tem limite de 1000 aplicações por profissão por ano; ou 2) Começar a estudar francês, obter o mínimo necessário para fazer o processo e em paralelo ir trabalhando para ter alguma experiência também. Fazendo isto você terá todas as chances. Não desanime, você consegue! Boa sorte.

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